quinta-feira, maio 26, 2005

O bem, o mal e o assim-assim

Ontem fui ver o novo filme da saga Guerra das Estrelas. Recomendo vivamente a todos os fãs da saga, finalmente podemos ver como aparece o mítico Darth Vader. Mas a coisa que mais notei foi como esta nova trilogia parece de uma inspiração diferente. Eu sei que já tudo estaria escrito à muito, muito tempo, mas reparem:
Nos anos 70/80 quando os primeiros três filmes surgiram, viviamos num mundo fortemente dividido. Durante três décadas, a guerra fria tinha ajudado a definir com grande clareza o que era o bem e o que era o mal (claro que variavam consoante o lado da cortina de ferro em que viviamos... e nenhum deles corresponderia certamente ao ideal subjacente, mas acreditava-se nisso). Também no filme, ninguém tinha dúvidas do que era o bem e o mal, o lado bom da força e o lado negro, os heróis e os vilões. Era tudo muito preto no branco.
Na nova trilogia, vemos nobres jedis a fazerem coisas pouco nobres, por exemplo, terão certamente notado que à uma frase idêntica repetida pelo (futuro) imperador e pelo mestre Windu. Matar está longe de ser um último recurso e à claramente uma grande sede de poder dos dois lados. Por outro lado, vemos um recém criado Darth Vader a sucumbir ao lado negro em nome do amor, e a ter como primeiro pensamento, depois da sua "ressureição", a sua amada Padmé. Não é dificil pensar em outros exemplos de como o bem e o mal já não estão tão bem definidos, tão preto no branco. No limite poderiamos comparar os jedis e os sith a duas força políticas, ideologicamente opostas, a lutar pelo mesmo poder absoluto. O facto de uns quererem o poder pelo poder e os outros se justificarem com ideais democráticos acaba por não ser uma grande diferença... Olhemos agora para a geopolítica actual. Onde estão os maus da fita? São os terroristas os mauzões, ou são os países ricos que levam as pessoas ao desespero nos países mais pobres levando-as a essas atitudes desesperadas? Quem são os maus a fita, os americanos que levam acabo uma guerra ilegal de ocupação para dominar as reservas de petróleo do iraque, ou o terrível estado-polícia de Saddam Hussein que abomivavelmente manietou e amordaçou o seu povo durante décadas? São os israelitas com a sua politicação de ocupação e exterminio da Palestina, ou são os palestinianos, eternamente violentos e violentamente adversos a uma busca da paz? Agora vivemos no mundo do assim-assim. No mundo dos males necessários, sendo que já ninguém se lembra de qual era o bem para o qual eles eram necessários.
Alguns defendem que mais do que numa crise económica, vivemos numa grande crise de valores, defendendo um regresso aos valores religiosos e (a)morais do passado, outros defendem que estamos a passar pelas agruras de uma adolescência, no limiar de um admirável mundo novo de liberdade, prosperidade e felicidade nunca antes vistas, outros dizem apenas que estamos perto do fim, sem especificar bem que final será esse... Pessoalemente, não tenho dúvidas que muitas coisas estão mal, mas não acho que seja andando para trás que vamos encontrar uma solução, já passamos o ponto de não retorno à muito tempo, quando os nossos antepassados tiveram a infeliz "ideia" de descer das árvores... não que tenham tido muito voto nessa matéria!
Agora que cheguei aqui, neste post, também não sei como o acabar. O culminar lógico seria uma ideia brilhante, mas infelizmente não a tenho, também não sei qual é a solução para este mundo assim-assim. Talvez a constatação do facto já seja um bom começo, mas ainda assim... eu já o disse, o bem e o mal já não existem, ficaram enterrados num passado cada vez mais longínquo, atolados nos pântanos de moralismos religiosos e filosóficos que, tal como as sombras da caverna de Platão, podiam ter pouco que ver com os conceitos reais.
Eu pronhunha então um mundo do pensar antes de agir, um mundo onde a democracia seja uma forma de igualdade e não mais uma oligarquia dos mais poderosos, um mundo onde as grandes decisões sejam tomadas pelas maiorias, mas onde as maiorias estejam bem informadas. Informadas pelas armas que temos para esse fim, a ciência, as telecomunicações, a filosofia e acima de tudo a liberdade de expressão e a livre discussão e livre acesso ao saber. Basicamente proponho um mundo igual aquele em que geralmente achamos que vivemos, mas que todos sabemos não passar de mais uma utopia. Proponho o mundo real, do qual aquele em que vivemos é apenas uma sombra na parede de uma caverna.
Infelizmente não sei onde encontrar esse mundo. Talvez todos juntos o pudessemos encontrar...

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