quinta-feira, julho 21, 2005

A fogueira à beira-mar plantada


Estamos em Julho e portugal está a arder... para variar. Sinceramente isto já nem é notícia, nem sei para que abrem os telejornais com notícias do fogo. Sempre as mesmas imagens, sempre as mesmas falsas questões, sempre as mesmas desculpas esfarrapadas, sempre o mesmo manto de mentiras a tentar disfarçar com uma peneira esburacada a luz escaldante da verdade que todos conheçem.
Por onde começar?

Os bombeiros não têm meios. É verdade, mas já à muitos anos se tornou óbvio que não é do interesse dos "powers that be" que eles sejam capazes de responder com eficácia ao flagelo das chamas. Bastava para aí um centésimo dum TGV, ou um milésimo dum novo aeroporto para lhes fornecer o melhor equipamento do mundo, com debroados a ouro e quarteis desenhados pelo Frank Ghery. A verdade é que nem a merda dos helicopteros o governo compra, tem de alugar todos os anos.

Curiosamente, os pinhais e eucaliptais das celuloses raramente sao afectados por incêndios. Humm será coincidência? Devem ser mesmo sortudos esses gajos.

Outro coisa engraçada é que todo e qualquer incêndio que se inicie próximo de uma área protegida alastra inevitávelmente para dentro desta, se bem que os heroicos soldados da paz conseguem quase sempre salvar os dois barracões, ilegais e já abandonados, que estavam do outro lado da estrada, na direcção que o incêndio tomou antes de avançar sobre o parque natural.

Quase todos os incêndios começam em eucaliptais e pinhais, supostamente áreas cultivadas e geridas por alguém. Contudo, quando se vem anunciar o desleixo e a falta de gestão que causou e potenciou o fogo nessas áreas, nunca se pensa sequer em responsabilizar os donos da parcela em questão pela hecatombe que afectou todos os vizinhos, que até tinham silviculturas bem geridas, com matos limpos e corta-fogos nos sitios certos.

Um simples passeio na Tapada de Mafra (flagelada pelo incêndio à dois anos atrás) mostra mesmo ao maus desatento dos visitantes que tudo o que ardeu estava associado a pinhais e eucaliptais. Os carvalhos, freixos, ulmeiros, plátanos e etc. que ao longo de séculos tem vindo a ser arrasados e substituidos pelas duas espécies anteriores são muito mais dificeis de queimar. Infelizmente, não sobrevivem aos incêndios tão bem como o eucalipto.

Qualquer telejornal ensina-nos que uma casa, mesmo que abandonada, que arda, é uma tragédia nacional, muito superior à perda de 50000 hectares de floresta. Os mesmos telejornais raramente se lembrar de referir que a maioria das casas vitimadas por incêndios são construções edificadas à revelia de planos director municipal ou de outros instrumentos de ordenamento do teritório. Só mesmo em casos verdadeiramente excepcionais e calamitosos (como aconteceu no ano passado) é que verdadeiras zona urbanas são afectadas por incêndios.

Já agora, alguém podia explicar aos meios de comunicação que um incêndio raramente é uma catastrofe ambiental, na verdade vivemos num clima mediterrânico onde a maioria das plantas autoctones (sobretudo na metade Sul do país) estão adaptadas a um regime de fogos e secas, recuperando em poucos anos. Na verdade os matos mediterrânicos são ecossistemas que dependem do fogo para existir. A verdadeira calamidade ambiental é o facto de as áreas ardidas serem rapidamente vendidas ao preço da uva mijona para serem devidamente acimentadas, alcatroadas ou simplesmente arrasadas pelos patos bravos da construção civil.

Podia continuar o dia inteiro. Mas não estou a escrever nada de novo. Todos sabemos o que a casa gasta. Por acaso até tenho uma sugestão para resolver o problema. Pegava-se em todos os patos bravos da construção civil. Em todos os detentores de cargos publicos acima de Sub-director. Em todos os quadros de empresas de celulose. Em todos os donos das empresas que alugam ao estado os meios aéreos de combate aos incêndios. Depois rega-se com gasolina q.b. acende-se um fósforo, atira-se o fósforo para o meio deles e 85 % dos fogos por e simplesmente desapareciam. Sobravam os outros 15 % que ocorrem naturalmente e são até essenciais para a saúde dos nossos ecossistemas naturais.

1 comentário:

Filipe disse...

Muito bem!
Revê um pouco a ortografia (tens alguns erros de teclado, daqueles que se cometem quando estamos a escreevr depressa e temos muito que dizer) e manda para jornais e revistas. Ainda vais ver isto publicado!