sexta-feira, setembro 02, 2005

We told' ya

"Look who comed crawling back" disse eu para o Tio Sam quando ele entrou pela minha porta, todo desgrenhado, com a roupa rasgada e molhada e a morrer de fome. "Então pá que é isso?" perguntei-lhe eu, sempre com medo que ele me bombardeasse com misseis Tomahawk. "Foi a merda do furacão, comemos da dose grande em Nova Orleães", respondeu ele tossindo e arfando. "Ah pois é, os meninos são os maiores, não precisam de ninguém, o protocolo de Kioto é uma treta, não à aquecimento global e o camandro" começei eu a desbobinar. "Mas o que é isso tem a ver com a merda do furacão?" perguntou ele com o queixo a tremer de frio. "Se vocês ouvissem alguma coisa do que nós, estúpidos e ignorantes não americanos, dizemos tinham reparado que todos os modelos climáticos previam a ocorrência de cada vez mais tempestades catastróficas, à medida que a temperatura da atmosfera vai subindo". Intrigado com o que eu disse, o Tio Sam tentou a cartilha do costume. "Aquecimento global? Isso é para meninas. O furacão foi criado por uma célula da Al-Qaeda baseado na Rússia, daí chamar-se Katrina. Logo que reponhamos a ordem em casa vamos bombardear esses cabrões desses Russos para os ensinar a não albergar terroristas. Já deviamos ter despachado esses cabrões da face da terra à muito tempo!" Não consegui evitar um breve sorriso de desdém, "Vocês são mesmo estúpidos não são?" perguntei, um pouco a medo. "Tu queres levar com uma bomba atómica nos dentes não queres?" perguntou o tiozinho a espumar de raiva. "De qualquer forma, se vocês não tivessem o vosso exercito todo ocupado em guerras absurdas um pouco por todo o mundo, podiam usa-lo para salvar as pobres pessoas que vivem em Nova orleães, não era?" ariisquei eu, ciente de como estava perto de ser violado por via rectal pelo canhão de um tanque americano. Mas o tipo tinha resposta para tudo "O exercito está lá para parar esses sacanas nesses terroristas e para derrubar os lideres do eixo do terror, que lhes dão abrigo. Se não fosse isso tinhamos um furacão destes em todas as cidades americanas!" Não resistir a atirar-lhe á cara Pois, vai dizer isso aos desgraçados que estão a morrer no meio do caos em Nova Orleães." Aí pensei mesmo que ía morrer, o gajo passou-se "É agora, vou chamar agora mesmo um bombardeiro B2 para te rebentar esses miolos." Tive de o tentar acalmar "Calma, calma, mas não vês que ninguém consegue controlar o clima... quer dizer, ninguém excepto vocês com as vossas políticas ambientais imbecis. Mas aí nós não somos muito melhores, tenho que admitir. De qualquer forma, os russos até foram os primeiros a oferecer-vos ajuda, e também o México, a Venezuela, a União Europeia, até Cuba". Tentava eu pôr água na fervura, mas a referência a Cuba fe-lo passar-se completamente. "O quê, Cuba, nós não queremos esses filhos da puta comunas para nada. Devem ter sido eles a lançar o furacão só para depois virem oferecer ajuda para gozar conosco. Amanhã mando arrasar Havana. Vão aprender. E esse fala barato da Venezuela, o Hugo Chávez não espera pela demora. E quanto a vocês europeus, vocês já me começam a meter nojo, sempre tão bonzinhos, a justiça para aqui, o respeito pelo ambiente para ali, um bando de panascas é o que é. Temos que invadir essa merda toda para vos pôr na linha. Panilas! Ele dizia isto no meio de uma tempestade de perdigotos, tal era a maneira como espumava de raiva. No meio da confusão entraram finalmente os enfermeiros do Júlio de Matos para o levarem para o hospital psiquiátrico. Eu ainda lhes disse nós avisamos que ele estava a enlouquecer, we told' ya.

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