quinta-feira, setembro 28, 2006

The Wind That Shakes The Barley

No outro dia fui ver o The Wind That Shakes The Barley, um filme sobre a luta pela independência da República da Irlanda. Um filme duro, pesado, por vezes a roçar a violência excessiva, mas que deixa um retrato brutal de um período bastante conturbado da história da Irlanda. Quando falo em violência, não me refiro às habituais cena de membros cortados ou sangue espalhado pelas paredes à la Hollywood, trata-se de violência muito mais opressiva e muito mais realista, a incomportável injustiça com que os soldados britâncicos tratam os civis, ou espancam inocentes até à morte (não se vê o espancamento, ficamos com a prespectiva da mãe do desgraçado que assiste a tudo do lado de fora, ouvindo os gritos do filho e as ordens abusivas dos soldados). Na cena em que um prisioneiro irlandês é torturado, por e simplesmente tive de desviar o olhar. Mas não estou a dizer que a violência era excesiva, na verdade era talvez a necessária para se compreender o período em que decorre o filme.
Mais impressionante ainda, pelo menos para mim, é a parte do filme em que, depois de conquistada uma primeira independência muito limitada, os irlandeses se dividem em duas facções, acabando por se chegar ao ponto de ver amigos a matar amigos, irmãos a ordenar a morte de irmãos, uma personagem que escreve uma carta à pessoa que ama a explicar que tem de se despedir dela porque tem de morrer pela sua causa. Foram estas partes que me deixaram a pensar muito depois do filme ter acabado...

Sempre me considerei uma pessoa idealista, tenho os meus ideais e sempre achei que se a necessidade o exigisse, e espero que nunca o exija, eu seria capaz de lutar por esses ideais, como a liberdidade, a justiça ou a igualdade de direitos. Contudo, visto este filme, apercebi-me que existem valores aos quais eu seria incapaz de sobrepôr os meus ideais. Será admissível lutar pela nossa liberdade se para isso temos de matar o nosso próprio irmão? Que liberdade é essa porque estamos a lutar? De que vale lutar pela justiça se por ela temos de abandonar quem amamos?
Não tenho duvidas que um homem que viva em total isolamento do mundo teria toda a liberdade e justiça que podesse desejar, mas de que lhe serviriam se não tem ninguém mais com quem partilhar esses ideais porque lutou?

Porque faz um retracto impressionante de um período pouco conhecido da história do século XX, e porque dá que pensar, recomendo o filme. Mas se forem ver, preparem o estômago!

1 comentário:

Zorze Zorzinelis disse...

Percebi a tua ideia - é do género daquelas que nos aparecem num flash de pensamento quando estamos a sair do cinema. Boa dica, embora ande com o estomago muito fragilizado!