segunda-feira, março 28, 2011

Das antenas à justiça, passando pelo BPN...

Hoje roubaram-me (mais um)a antena do carro. Se isto se tivesse passado em Lisboa ou no Porto, eu nem estranhava, o problema tinha sido meu por deixar a antena à mão de semear. Mas em Évora? Ao estado a que isto chegou!

Mas o minha raiva, ou desagrado não é dirigida ao assaltante. Não sei se o fez para comprar a dose de droga, para amealhar dinheiro para comprar uma arma, ou simplesmente para comprar comida para si ou para a sua família. Isso é o que menos me interessa. A culpa do pequeno crime não é dos criminosos, mas antes de uma sociedade, e acima de tudo de um estado, que assume que a miséria é um estado aceitável para os seus cidadãos. A culpa é dos empresários que despedem ou exploram sem qualquer escrúpulo. É de toda esta filosofia ultra-liberal do capitalismo selvagem, da ganância levada ao extremo, do enriquecimento a tudo o custo, mesmo que o custo seja o benefício de dois ou três se espelhar na miséria de milhares ou de milhões.

É muito fácil pegar no discurso habitual da direita, tão habitual na língua serpentina de Paulo portas. Aquele discurso do crime galopante, do perigo à solta, da insegurança nas rua, tão bom para ganhar o voto da terceira idade. O problema é que a solução apresentada por esses senhores para esse problema é sempre a mesma, mais repressão, mais prisões, mais penas, mais investimento nas forças de segurança, endurecer a luta contra (algum d)o crime. Essa solução até poderia funcionar, se fosse uma verdade incontestável que algumas pessoas nasciam más, e outras nasciam boas. Prendendo todos os maus, os bons viveriam felizes para sempre. Mas o "viveram felizes para sempre" é uma coisa dos contos de fadas, e são no fundo contos de fadas que essa gente das direitas e extremas direitas nos gostam de contar.
Infelizmente, o crime não é uma manifestação do mal, nem um problema de moral. O crime, e sobretudo o pequeno crime, está intimamente ligado à situação económica do país. Os países ricos, com baixos níveis de desigualdade social, sendo destes exemplo máximo os estados do norte da Europa, são também aqueles que têm menos crime. Não é com repressão nem com violência que se combate o pequeno crime. Combate-se com justiça social e com educação. Combate-se com igualdade de oportunidades e de direitos, com uma política laboral justa, com baixos níveis de desemprego e de precariedade laboral.

Não vou dizer que não se deve financiar melhor as nossas polícias, e que o policiamento das ruas não é importante. Claro que são. É essencial manter a segurança das nossas ruas e é vergonhoso o estado de sub-financiamento a que as nossas forças de segurança chegaram, sem dinheiro para pagar sequer as fardas ou a gasolina das viaturas. Mas o verdadeiro alvo da política de segurança do país deveria ser o combate radical contra a pobreza, contra o desemprego e a precariedade, contra as desigualdades sociais. E, claro, o combate contra o grande crime, aquele que não afecta cada um individualmente mas que afecta todo o país e nos prejudica a todos enquanto cidadãos deste país. O chamado crime de colarinho branco, o grande crime económico, as grandes negociatas e trocas de favores, as grandes redes de tráfico que abastecem tantas das causas do pequeno crime, e os grandes crimes da banca, como o vergonhoso caso BPN em que o próprio Presidente da República, o pretenso máximo magistrado da nação, está envolvido até à ponta dos cabelos, assim como os seus verdugos dos governos PSD dos anos 80 e 90.

Infelizmente, em Portugal é infinitamente mais provável ser preso por roubar 10 euros do que por roubar 1000 milhões de euros. A nossa justiça é uma farsa, em que os pequenos se lixam e os grandes não só se escapam como ainda têm a lata de concorrer a cargos públicos, sendo eleitos por uma populaça ignorante que continua achar que as ruas estão cada vez mais inseguras, mas que elegem sempre aqueles que menos fazem para combater as verdadeiras causas do crime.

Em última análise, não me importava que me roubassem uma antena por semana, se em troca os senhores do BPN, os Isaltinos Morais e outros que tais fossem parar com os costados à prisão. não me importava de perder uma antena todos os dias, se em troca a taxa de desemprego baixasse e fosse possível encontrar neste país empregos estáveis e bem remunerados!

Sem comentários: