domingo, março 13, 2011

Portugal, crónicas de um país em busca de futuro

Ontem poderá ficar para a história. Ontem Portugal falou alto e bom som. Ontem Portugal gritou um imenso basta. Um imenso basta que não foi dirigido apenas a este governo, não foi dirigido apenas contra as políticas ruinosas com que o actual executivo tem hipotecado o futuro do país, não foi dirigido apenas contra uma taxa de desemprego galopante, contra níveis de precariedade incomportáveis. Não foi apenas um protesto de uma geração à rasca, não foi apenas um protesto de uma multidão de gente ultra-habilitada, ultra-informada e ultra-literada a quem este país mentiu e espoliou de um futuro e uma oportunidade de contribuir para o bem comum nacional. Não foi só um protesto de uma população obrigada a emigrar para ter esperanças de poder sonhar com um futuro, não um futuro melhor, mas simplesmente um vislumbre de um futuro que não seja uma corrida constante em direcção ao abismo.

Ontem Portugal protestou contra todo um paradigma político. Protestou contra toda uma classe política que adoptou a corrupção como estilo governativo, e que tornou banal a destruição do futuro e do designío nacional em troca de favores e ganhos milionários para os seus amigos, colegas, familiares e protegidos. Uma classe política que está neste momento a descer mais baixo que a nobreza medíocre que arrastou Portugal pela lama antes do 5 de Outubro. Uma classe política que cospe dia após dia na constituição e na democracia, que vende o Portugal presente e o Portugal futuro a quem pagar mais. Que acha natural levar o povo português ao limiar da miséria extrema apenas para anter o seu poder e as suas mordomias.

Muito tem de mudar em Portugal. Muito tem de mudar e depressa. A não-coligação governativa entre PS, PSD e CDS tem de ser afastada do poder já. Não estou com isto a dizer que temos de dar o poder aos partidos de esquerda, porque também esses não são isentos de culpa. Portugal não precisa nem de direita nem de esquerda no governo, o que precisamos verdadeiramente é de ter pessoas competentes nos cargos mais importantes, de garantir que as pessoas certas chegam às posições certas. Acabar de uma vez com esta partidocracia em que os cargos são atribuidos com base exclusivamente na filiação política de cada um. Portugal tem de deixar de ser o país das cunhas e tornar-se numa verdadeira meritocracia. Repito, precisamos das pessoas certas nos lugares certos, precisamos de ter as pessoas mais competentes nos lugares de maior responsabilidade, acabar de vez que o paradigma actual do "quem sabem faz e quem não sabe governa".

O mais complicado será conseguir tudo isto sem por em risco a nossa democracia. Porque temos de manter como valores máximos da nossa nação a liberdade, a igualdade de direitos e a justiça social. A verdadeira questão é como garantir que, num sistema democrático, asseguramos que são as pessoas certas a chegarem aos locais certos, em vez de continuar, como até aqui, a votar naquele que tem mais jeito para nos enganar nas 2 semanas que antecedem a próxima eleição.

Pessoalmente, penso que o primeiro passo será uma revolução. Não precisa de ser armada, não precisa de ser violenta, mas todas as pessoas que actualmente desgovernam o país, tanto no governo como na oposição, têm de ser afastadas permanentemente dos cargos de poder em Portugal. Precisamos também de toda uma nova geração de gestores e empresários capazes de olhar o futuro com uma visão que ultrapasse o lucro imediato e o prémio que vão ganhar no final do ano. Precisamos de gente com visão, mas também com um espírito de solidariedade social e de justiça laboral. Penso que ontem nas ruas de tantas cidades por este país fora estiveram pessoas, de todas as idades, infinitamente melhores e mais competentes (e provavelmente muito mais honestas também) que aquelas que actualmente nos governam ou gerem as nossas principais empresas. Precisamos também de uma total renovação do sistema judicial. Portugal tem de acabar hoje mesmo de ser o país em que só os pobres são condenados, em que só o crime pequeno é punido, enquanto que as fraudes dos grandes tubarões passam ao lado dos tribunais.

Acho que um bom início será reduzir drasticamente as remunerações dos cargos políticos. As pessoas que os ocuparem devem tomar as posições de topo e faze-lo num espírito de responsabilidade civil e não para atingirem ganhos económicos pessoais e pensões vitalícias injustas. Os cargos devem também ser alvo de um escrutínio publico mais forte. Muitos mais cargos deveriam ser decididos pelo povo e com uma frequência maior do que a actual.

Finalmente, os partidos como os conhecemos devem ser extintos. Ou pelos mudarem radicalmente o seu funcionamento. Temos de acabar com esta ideia que se somos de direita tudo o que a esquerda diz tem de estar errado, ou se somos de esquerda tudo o que a direita diz está errado. Em vez de assumir que só os governos de maioria absoluta funcionam, temos de nos habituar à ideia de que os políticos estão no parlamento para negociar o melhor para o país, em vez de se limitarem a atacar-se mutuamente de forma a maximizar as chances de ganhar a próxima eleição. Propunha, por exemplo, que todos os partidos capazes de eleger algum deputado deveriam ter funções no governo dessa legislatura, têm de ser obrigados a negociar entre si, em vez de se atacarem dia e noite, e tudo isso sob o olhar atento de um presidente que tem de ser um árbitro e não um incompetente, como o que temos agora. Precisamos de grandes coligações supra-partidárias capazes de oferecer ao país os melhores de cada área do saber. Como disse acima, as pessoas certas nos lugares certos, independentemente da sua cor política. Portugal não precisa de mais lodo político, precisa de gente com ideias e, acima de tudo, com saber.

Portugal merece muito melhor, os portugueses merecem muito melhor, e o mundo merece um Portugal melhor!

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