quarta-feira, agosto 31, 2011

A tese do coelhinho


Num dia lindo e ensolarado um coelho saiu da sua toca com o notebook e
pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois passou por ali uma
raposa e viu aquele suculento coelhinho tão distraído, que chegou a
salivar.
No entanto, ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
- Coelhinho, o que estás a fazer aí, tão concentrado?
- Estou a redigir a minha tese de doutoramento - disse o coelho, sem
tirar os olhos do trabalho.
- Hummmm... e qual é o tema da tua tese?
- Ah, é uma teoria que prova que os coelhos são os verdadeiros
predadores naturais das raposas.
A raposa ficou indignada:
- Ora!!! Isso é ridículo!!! Nós é que somos os predadores dos coelhos!
- Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova
experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se
alguns ruídos indecifráveis, uns poucos grunhidos e depois silêncio.
Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os
trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído,
agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido.
No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando
naquela concentração toda. O lobo resolve então saber do que se trata
aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
- Olá, jovem coelhinho! O que o faz trabalhar tão arduamente?
- A minha tese de doutoramento, senhor lobo. É uma teoria que venho a
desenvolver há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os
grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive
dos lobos.
O lobo não se conteve e farfalha de risos com a petulância do coelho.
- Ah, ah, ah, ah!!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isto é um
despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores
naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova
experimental. Você gostaria de acompanhar-me à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte.
Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois se ouvem uivos
desesperados, ruídos de mastigação e ... silêncio. Mais uma vez o
coelho regressa sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redacção
da sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos
ensangüentados e a pelagem de diversas ex-raposas e, ao lado desta,
outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia
foram lobos.
Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem
alimentado, a palitar os dentes.

MORAL DA HISTÓRIA:
1.Não importa quão absurdo é o tema da sua tese;
2.Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico;
3.Não importa se as suas experiências nunca cheguem a provar sua teoria;
4.Não importa nem mesmo se as suas idéias vão contra o mais óbvio dos
conceitos lógicos...
5. O que importa é

QUEM É O SEU PADRINHO!!!!

terça-feira, agosto 30, 2011

Natureza em Sagres

Depois de duas semanas a monitorizar a migração de rapinas em Sagres, já vi uma boa parte das espécies que ocorrem por lá nesta altura do ano, incluíndo o falcão-da-rainha Falco eleanorae, espécie de ocorrência muito rara em Portugal. Mas nem só de rapinas se vive em Sagres e muito tenho apreciado as escapadelas ao cabo de S. vicente para ver aves marinhas, grupo pelo qual sempre tive uma predileção especial.
Entre várias observações engraçadas, ficou na retina uma estreia, finalmente consegui ver a esquiva pardela-sombria Puffinus griseus, a espécie que aqui reproduzo.


No campo, entre rapinas, não deixo de apreciar as muitas borboletas que esvoaçam por entre os arbustos, sobretudo a lindíssima cauda-de-andorinha Papilio machaon.
Está a ser uma excelente oportunidade para reavivar a minha paixão pela biologia, e uma muito agradável fuga, ainda que cansativa, ao ambiente menos saudável do meu trabalho habitual...




domingo, agosto 28, 2011

Piscares de Olho - LII

"Uma gaivota voava, voava, asas ao vento, coração no mar". Acho que é mais ou menos assim que diz a canção sobre a liberdade. Poucas coisas neste mundo transmitem uma melhor imagem de liberdade que o voo das aves, como esta gaivota a planar ao sabor do vento. Tirei esta fotografia a bordo do barco que faz a ligação entre o continente e a ilha holandesa de Schiermonnikoog. As gaivotas aproximam-se bastante do barco, sempre à espreita de alguma comida que possam roubar aos passageiros, e neste dia o céu azul, coisa raríssima na Holanda, dava o cenário perfeito para fotografar esta gaivota.

domingo, agosto 21, 2011

Piscares de Olho - LI

O piscar de olho de hoje leva-nos até à diminuta aldeia de Gaast, na provincia holandesa da Fryslân, ou Frísia. Localizada nas margens do Ijsselmeer, esta aldeia conta com pouco mais de 50 casas, todas elas perfeitamente preservadas, ou não se tratasse da Holanda, com fachadas e jardins perfeitos até ao mais ínfimo pormenor. Foi meu fado ter vivido nesta aldeia durante quatro períodos de 3 meses, nas primaveras entre 2006 e 2009. A aldeia juntava as duas características de ficar mesmo ao lado da minha área de estudo e ser o local de residência do meu orientador de doutoramento.
Na fotografia vemos o pequeno canal que atravessava a aldeia, sempre muito bucólico com o seu arvoredo e pequenos barcos para passear no lago ao fim de semana. A aldeia é lindíssima e um belo sítio para passar uns dias, mas ao fim de algumas semanas torna-se rapidamente num desterro em que nada se passa, ao ponto da vizinha localidade de Workum, com 4000 habitantes, nos parecer uma imensa metrópole cheia de animação.

domingo, agosto 14, 2011

Piscares de Olho - L

A Fontana di Trevi é a maior e mais ambiciosa fonte barroca de Roma. O seu nome provém das três estradas (tre vie) que se intersectavam no local onde a fonte foi constrída. Esta fonte marcava o ponto final do Acqua Vergine, um dos mais antigos aquedutos que abasteciam a cidade de Roma, tendo abastecido a cidade por mais de 400 anos, nos tempos da Roma clássica. A forma actual da fonte foi encomendada pelo Papa Urbano VII, em 1629 e é hoje uma das imagens de marca da cidade eterna, atraindo turistas e cineastas, tendo sido imortalizada numa das cenas mais famosas do cinema italiano, quando em La Dolce Vita, filme de 1960 de Federico Fellini, Anita Ekberg entra na água e convida Marcello Mastroianni a fazer o mesmo. O sítio é bastante propício à fotografia, e aquando da minha visita a Roma, em 2009, não deixei de passar pela Fontana de Trevi para a "imortalizar" à minha maneira.

domingo, agosto 07, 2011

Piscares de Olho - XLIX

Tirei a fotografia de hoje em Alhambra, no fabuloso palácio onde de onde os califas muçulmanos governaram o seu domínio da Península Ibérica. Alhambra é um local fabuloso, um sítio onde a beleza da arquitectura árabe se mistura com os espaços verdes e a água corrente, formando um local de paz e de beleza onde os governantes de outros tempos encontravam o descanso necessário para pensar no destino da sua nação. Por entre arabescos e arcos rendilhados, encontramos pequenos lagos e reflexos. Por entre tudo isso, encontramos flores que dão um toque de cor e poesia a tudo o resto. É sem dúvida um dos locais mais belos da Península Ibérica!

sábado, agosto 06, 2011

Vou ali... já venho

Durante o próximo mês vou estar em Sagres a monitorizar aves de rapina e a tentar evitar que estes moinhos, quais monstros quixotianos, as cortem às postas. Este blog fica por isso em modo de férias...

Aproveitem a silly season!

sexta-feira, agosto 05, 2011

A medusa de Madagascar

É uma questão de escala, as imagens de satélite conseguem mostrar-nos um estuário numa única fotografia. Mas a natureza é óptima a criar formas e o resultado pode ser igual a olharmos para nuvens e vermos cavalos, extraterrestres ou uma casa. Neste caso, a foz do Betsiboka, o maior rio de Madagáscar que desagua na baía de Bombetoka, no Noroeste do país, parece uma medusa. O estuário forma os tentáculos gelatinosos devido aos sedimentos avermelhados que vêm das zonas montanhosas durante as temporadas mais chuvosas. A fotografia, tirada a 17 de Setembro de 2010, é do satélite japonês ALOS e foi disponibilizada pela Agência Espacial Europeia.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Contagens de aves necrófagas

Ao longo do último ano foram realizadas contagens de aves necrófagas nas ZPEs de Mourão-Moura-Barrancos e Vale do Guadiana. Estas contagens pretendiam estabelecer a situação de referência do abutre-preto Aegypius monachus e de outras aves necrófagas antes de terem lugar as acções de conservação previstas no projecto, de forma a que nos próximos anos seja possível avaliar o impacto dessas acções nas populações destas aves na área de intervenção do projecto.

Assim, foram efectuadas 6 contagens, três fora do período reprodutor (PNR) do abutre-preto, em Outubro, Novembro e Dezembro de 2010, e três durante o período reprodutor (PR) da espécie, em Março, Maio e Julho de 2011.
Verificamos uma maior abundância de abutre-preto durante o período reprodutor da espécie (média PNR: 9±2,6 vs. média PR: 17±2,2), tendo sido observado um máximo de 21 indivíduos em Maio. Esta diferença deve-se provavelmente ao facto da espécie ter uma maior área de busca de alimento durante a época de reprodução, sendo assim mais elevada a probabilidade de indivíduos provenientes da colónias espanholas visitarem Portugal. Em todas as contagens o número de abutres-pretos foi mais elevado em Mourão-Moura-Barrancos.

No conjunto das 6 contagens foram detectadas 20 espécies de aves de rapina, representando 83% das espécies de ocorrência habitual em território português. Durante as contagens realizadas no Outono as espécies mais abundantes foram o grifo Gyps fulvus (média: 409±81,4 indivíduos), o milhafre-real Milvus milvus (média: 27±12,9 inds.), o bútio Buteo buteo (média: 20±3,7 inds.) e o peneireiro-comum Falco tinnunculus (média: 13±2,8 inds.). Já nas contagens efectuadas na Primavera e Verão as espécies mais abundantes foram mais uma vez o grifo (média: 369±59,8 inds.), o milhafre-preto Milvus migrans (média: 19±5,2 inds.), o bútio (média: 15±2,6 inds.), o peneireiro-comum (média: 13±2,7 inds.) e a águia-cobreira Circaetus gallicus (média: 12±1,9 inds.).
No decurso destas contagens foram detectadas várias espécies de elevado interesse conservacionista, nomeadamente grandes águias como a águia-de-Bonelli Aquila fasciata, a águia-real Aquila chrysaetos e a águia-imperial-ibérica Aquila adalbertii, assim como o tartaranhão-caçador Circus pygargus.

Este trabalho não teria sido possível sem a participação dos vários voluntários que têm colaborado com o projecto LIFE Habitat Lince Abutre. Nas 6 contagens aqui resumidas tivemos o auxílio de 21 voluntários provenientes de várias zonas do país e até de Espanha. As contagens de aves necrófagas irão continuar, de forma a monitorizar a evolução futura do abutre-preto e de outras espécies na área de intervenção do projecto, sendo sempre bem-vindos novos voluntários que nos queiram auxiliar. Os eventuais interessados devem contactar o técnico do projecto Pedro Lourenço através do e-mail plourenco@ceai.pt.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Atmosfera

Quando olhamos para o céu, parece-nos que não tem fim... Pensamos descuidadamente sobre o ilimitado oceano de ar, sentamo-nos numa nave espacial, abandonamos a Terra e, em menos de dez minutos, atravessamos a camada de ar, e por trás dela nada existe! Para lá do ar só existe o vazio, o frio e a escuridão. O “ilimitado” céu azul, o oceano que nos permite respirar e nos protege do vazio negro e da morte, não é mais do que uma camada infinitesimamente fina. Como é perigoso ameaçar-se a mais ínfima porção deste suporte da vida!

Vladimir Shatalov (astronauta russo)


D
o grego antigo: ἀτμός, vapor, ar, e σφαῖρα, esfera, a atmosfera é uma camada de gases que cobre os corpos com massa suficiente para gerar uma força gravítica que evite a perda dos gases para o espaço. A nossa atmosfera, aquilo que nos permite respirar e viver, é uma camada com pouco mais de 100 km de espessura que reveste o planeta Terra. Composta essencialmente por azoto e oxigénio, a nossa atmosfera tem também pequenas quantidades de árgon, dióxido de carbono e vapor de água, este último formando aquilo que conhecemos por nuvens.
A nossa atmosfera pesa uns impressionantes 5 milhões de milhões de milhões de quilos, mas é apesar disso sensível às nossas loucuras, tendo hoje uma concentração crescente de gases como o dióxido de carbono e o metano, responsáveis pelo efeito de estufa e através deste das alterações climáticas que estamos actualmente a sofrer- Outro gás importante, o ozono, vai-se tornando cada vez mais raro na altas atmosfera, pondo em causa a manutenção da camada de ozono, a nossa única protecção da radiação cósmica!
Ninguém como os astronautas teve a verdadeira noção do quão frágil a nossa atmosfera é. Ninguém como eles observou em primeira mão como é na verdade fina e quase insignificante. Contudo, esta ínfima camada de gases, na sua maioria transparentes, é aquilo que nos permite viver neste planeta. Talvez já fosse altura de tomarmos melhor conta de algo que é ao mesmo tempo tão insignificante na grande escala das coisas, mas tão absolutamente essencial para nós!