segunda-feira, março 12, 2012

Devorando as mentes de amanhã?

Hoje ouvi uma estatística assustadora, em média uma criança da faixa etária entre os 2 e os 5 anos vê 26.000 anúncios na televisão por ano. Isto são 71 anúncios por dia, ou cerca de 3 anúncios por hora. Trata-se do processo através do qual se transforma um cérebro virgem capaz de apreender tudo o que o rodeia como uma esponja, capaz de um dia atingir os mais brilhantes devaneios artísticos, as mais arrebatadoras argumentações, os mais geniais avanços da ciência, numa simples máquina de gritar: "quero", "quero", "quero"!
Claro que isto não vem de agora e já a minha geração foi bastante bombardeada com publicidade mais ou menos enganosa, mas a publicidade parece ser cada vez mais descarada e, o que é mais grave, cada vez mais encapotada. Muitos dos programas para crianças, muitos dos desenhos animados actuais parecer limitar-se a ser máquinas de vender merchandising, com pouco ou nenhum conteúdo. 
Antigamente tínhamos coisas geniais como a série "Era uma vez a vida", ou no original francês "Il etait une foix la vie" que ensinava a compreender o corpo humano com um detalhe tal que só consegui compreender alguns dos conceitos muitos anos mais tarde, já durante o meu curso universitário de Biologia. O humor caustico mas genial dos desenhos animados da Warner Brothers, tantas vezes acompanhados da melhor música clássica ensinaram-me o que era a ironia e o sarcasmo, ao mesmo tempo que me ensinavam a apreciar Wagner, Beethoven ou Mozart.
Imagem da série "Era uma vez a vida" que mostra, na versão animada,
dois glóbulos brancos a patrulharem a corrente sanguínea.

Ao ver desenhos animados hoje em dia só vejo alusões a violência, a glorificação da estupidez e uma algo inquietante erotização que, não querendo parecer pudico, me incomoda bastante quando dirigida a um publico (muito) pré adolescente.
Posso estar a ser demasiado derrotista, ou até sensacionalista, mas parece-me ser esta uma forma de destruir o futuro intelectual da humanidade, sendo esta apenas mais um efeito colateral do capitalismo selvagem que se instalou no mundo e parece não querer largar a presa enquanto esta não estiver moribunda ou morta.

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