sábado, setembro 15, 2012

Postais das Selvagens


22 – Primeiras necessidades

Os painéis solares da casa da reserva na Selvagem Grande.

As rotinas diárias facilmente fazem esquecer os aspectos básicos do dia-a-dia. A nossa vida não é possível sem a ingestão de água e também o nosso bem-estar requer disponibilidade de água para fins sanitários e energia.
Estando no ponto mais meridional de Portugal, já muitas centenas de quilómetros mais próximos do equador do que o nosso cantinho na extremidade da Europa, o recurso à energia solar torna-se ainda mais óbvio. A casa da reserva tem um conjunto de painéis solares, num total de vinte e quatro, que garantem todas as necessidades de energia eléctrica durante os meses mais solarengos do ano. Existe também um gerador a gasóleo para quaisquer eventualidade, mas raramente foi usado durante o tempo que passei na ilha. Esta energia solar, absolutamente limpa de impactos para o nosso planeta, garantia as necessidades de refrigeração, de iluminação e outros fins domésticos como o funcionamento da televisão ou o carregamento de computadores, telefones e máquina fotográficas.
A ausência de água potável é o principal motivo pelo qual as Selvagens se mantiveram selvagens. Ocorreram algumas tentativas de colonização no passado, mas todas elas esbarraram contra a limitação da falta de água. A chuva por aqui é pouca e geralmente concentrada nos meses de inverno e a constituição geológica a ilha é pouco favorável ao armazenamento natural de água no subsolo. Foi construída na ilha uma cisterna, com capacidade para uns bons milhares de litros, que armazena água das chuvas. Além desta existem dois outros tipos de água: água potável trazida em bidons em cada rendição e, claro, a água do mar. A água do mar é usada para encher os autoclismos das sanitas, para lavar louça e para outros fins em que se pode abdicar da água doce, sendo bombeada do mar por uma bomba e armazenada numa pequena cisterna de mil litros sobre a casa. A água doce da cisterna é usada para a higiene, para banhos e afins, sendo que os banhos principais são no mar, bastando depois um curto duche para remover o sal. Finalmente, a água potável trazida em cada rendição é usada para beber e para cozinhar, uma vez que a água da cisterna tem muitas impurezas e pode não ser potável.
Para aquecer água é usado gás, proveniente de uma botija trazida da Madeira em cada rendição, mas foram muito poucas as vezes que foi necessário recorrer a esta energia menos limpa, fruto de a água chegar até nós já aquecida pelo sol que massaja as cisternas com os seus raios quentes.

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